Introdução
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O futuro não é mais como era antigamente!

Um verme liberal espalha aos quatro ventos sua "boa nova": - é o fim de todas as ideologias! (como se fosse possível acabar com ideologias sem acabar com o próprio homem e sua capacidade de ter idéias). Outro vai mais além dizendo que estamos chegando no fim da própria história. Enquanto isso, os baluartes das internacionais sisudas - velhos comunistas e anarco-sindicalistas - vivem de saudosismos, restos, fotos desbotadas, saudades de um proletariado revolucionário que se perdeu nas voltas do mundo. E o conservadorismo libidinoso vira moda alimentado por medos gerados pela miséria do terceiro mundo, bem como pelos traumas resultantes da distopia socialista soviete. Será que não há nem haverá nada de novo sob o sol? Será o fim de toda possibilidade de transformação social? Devemos nos conformar com esta sobrevida pasteurizada despida de toda excitação, de toda agitação imaginativa que nos reserva o status-quo? Estaremos fadados ao terrível papel de peças sobressalentes da Máquina-Sistema, submersos eternamente nestas catacumbas escuras?

Algo entre meus olhos e meu cerebelo insiste em me dizer que tudo isso é balela pró-sistêmica que vem sendo repetida pelas maiorias angustiadas, doentes e deprimidas, tornando-se lavagem cerebral de baixa qualidade. É um fato inevitável: alguns já perceberam uma ruga de preocupação crescer no rosto maquiado da âncora do jornal: "Como desinformar informando tanta gente por tanto tempo? Como esconder fatos e ocorridos que poderiam servir de inspiração para a revolta de tanta gente descontente há muito?"

A preocupação da âncora encontra-se bem fundamentada em tudo aquilo que ela evita em colocar no ar: todas as notícias que foram para a gaveta, que jamais chegaram ao (portanto não aconteceram no) meio midiático. Estes são indícios importantes, não podemos ignorar que uma grande mudança está a caminho, e este é o momento exato em que o status-quo tal qual conhecemos começa a fraquejar. Por mais que a jornalista se esforce para maquiar a notícia, agora existem meios que sua corporação simplesmente não é capaz de controlar, meios de informação dinâmicos e pulsantes que, se bem utilizados, são capazes de oferecer informações que não foram para a TV e para os jornais, ou que foram distorcidos para que fossem veiculados.

Fica cada vez mais evidente, a uma parcela cada vez maior de pessoas submetidas à Máquina-Sistema que há alguma coisa muito errada acontecendo - atrito entre peças (mentiras, guerras, violência), sobrecarga e desgaste (sub-emprego, exploração, impostos e irresponsabilidades), e perda de energia (escapismo, miséria, morte e inanição). É claro que nem todos são capazes de perceber conscientemente este mal-funcionamento; muitos se agarram na normalidade, outros se desesperam e enlouquecem lentamente em seus trabalhos, junto com as suas famílias, nos ônibus e carros, em meio a congestionamentos que os levam a lugar algum. São tomados por crises de depressão e ódio e, geralmente, canalizam este ódio e esta depressão para o lado errado (Será que alguém pode dizer para aqueles meninos de casacos pretos cheios de armas que existe toda uma capital cheia de políticos a sua espera?!)

Aos ditos "politizados" identificados com as balelas (esquerdistas ou direitosas) da decadente "realpolitik" só sobra uma megaversão do jogo da batata quente. Verdade seja dita, são apenas peças diferentes desta mesma máquina.

As elites (peças tipo A - geralmente a direita de quem entra, no alto da escadaria) colocam a culpa dos problemas do mundo no crescimento demográfico, nas ondas de imigração dos pobres, no jeitinho dos empregados, na herança indígena, na mistura racial, nas chuvas das monções, na presença de curdos, no calor dos trópicos, na qualidade da água, na quantidade de polém no verão e, mais frequentemente, no "paternalismo institucional". No contexto do chamado terceiro mundo a direita vomita ideologias desenvolvimentistas ultrapassadas lamentando o fato de não termos o mesmo nível de produtividade e excelência da Suíça ou do Canadá "onde tudo é lindo e cor-de-rosa, e teletubbies andam consumindo tranqüilamente em meio à bonecos de neve e verdes campos até a hora de dizer tchau". A estratégia das elites é jogar a batata quente para cima de todos aqueles que se acredita atrapalhar seu grande projeto de mercado global ao qual os estados (mínimos) e as diferentes nações devem se alinhar e se submeter.

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Como no reflexo de um espelho, as outras vias (que de fato são uma só, e geralmente se colocam a esquerda): os ditos socialistas, entusiastas do sindicalismo estatal, social-democratas e outros tipos de reformistas (peças tipo B) jogam a batata quente em cima dos ricos gananciosos que só pensam em si, transformando-os nos grandes vilões da história. Mas isso certamente é uma supervalorização das elites, que são por demais incapazes de qualquer reflexão sobre qualquer coisa que não seja o lucro cego (é isso ou será só um grande lodo de hipocrisia?). Se agem nesse sentido, agem por dois motivos: 1) pelo medo da mudança instigado pela ideologia de guerra de classes, e 2) pela segurança da tradição, traduza-se automatizada reprodução. Por outra via, o esquerdista clássico não se permite eximir os pobres e os alienados, considera-os desorganizados, ignorantes e "desinformados", que não são minimamente capazes de reconhecer (e de votar) nos esquerdistas como "vanguarda", "autênticos líderes" defensores de sua classe e do seu sagrado bem estar estatal.

Fora desta balela o mundo está explodindo em mudanças rápidas e promissoras: blocos de guerreiros vestidos de negro, rizomas de rádios comunitárias, levantes indígenas, redes de okupas e outras insurreições nos centros e periferias. Cada um destes elementos é também uma peça no mosaico deste tempo em movimento. O futuro realmente não é mais como era antigamente e esta frase, pichada em um muro argentino, lembra-nos o quão negro o futuro nos pareceria se não fosse nossa própria capacidade de intervirmos positivamente no que está por vir. Então pichamos aqui algumas idéias para o futuro, uma proposta de intervenção neste estado de coisas, por um mundo que ainda está para surgir.

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